Cultura da tradução, Problemas na Tradução

Problemas de gênero na tradução

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“Maria tinha um carneirinho. Seu pelo era branco como a neve. Um dia, ele a seguiu para a escola, o que era contra as regras.”

O trecho dessa canção infantil parece simples, mas se precisarmos traduzí-lo para outro idioma ou adaptá-lo para outra cultura, as coisas podem ficar complicadas. Você diria que o carneirinho era macho ou fêmea? Fica claro o que era contras as regras? O carneirinho ir à escola ou a menina?

Esses podem parecer questionamentos irrelevantes, mas, no mercado da tradução, esse é um assunto sério. Os problemas de gênero podem criar desafios de comunicação não só pelo potencial de mudar os significados, mas porque podem causar desconfortos culturais.

Três problemas de gênero

Gênero gramatical: refere-se ao gênero ligado aos substantivos. Alguns idiomas apresentam essa característica, outros não. Os dois problemas que podem surgir são:

  • O idioma fonte usa um pronome ou um artigo específico para cada gênero, mas o idioma alvo não prevê essas regras. Por exemplo: em inglês, o uso de “you” é suficiente para a comunicação, mas há casos em que indicar se o pronome é masculino ou feminino pode auxiliar na manutenção do contexto. Como o inglês não possui uma palavra específica com marcação de gênero para “you”, o tradutor tem que encontrar uma outra solução.
  • O idioma fonte não tem um artigo ou pronome específico para marcar o gênero, mas o idioma alvo possui. Em inglês, dizemos apenas “sun” ou “girl”. Ao traduzirmos para o português, adicionamos os artigos “o” e “a” antes das palavras “sol” e “menina”. O problema aparece quando o gênero não é especificado no idioma fonte e pode mudar o contexto dependendo de como for traduzido no idioma alvo.

Gênero semântico: refere-se aos substantivos masculinos e femininos como distintos pela Biologia. Em inglês, podemos nos referir a um gato utilizando “ele” (he) ou “ela” (she) caso o gênero seja conhecido, senão, utiliza-se “it”. Como essa opção não existe em muitos idiomas, o que muitas culturas têm tentado fazer é substituir os substantivos para evitar a especificação de gênero. Em português, por exemplo, o termo “alunxs” foi adotado por um colégio carioca e diversas comunidades têm utilizado essa ideia para discutir a questão da representatividade. Certamente, os tradutores encontrarão muitos dilemas pela frente.

Gênero social: refere-se ao gênero assumido em uma determinada sociedade. A distinção entre sexo e gênero não é mais tão clara como antigamente, mesmo assim, essas ideias ainda não foram absorvidas pela Linguística. A palavra “secretária”, por exemplo, indicava uma profissão específica para mulheres, como não é mais o caso, a alternativa mais simples foi substituir “secretária” pelo neutro “assistente”.

Os papéis sociais de gênero têm raízes históricas e culturais profundas e, apesar de serem altamente estereotipados, também devem ser considerados pela tradução. O tradutor com fluência nos idiomas e nas culturas requisitadas conseguirá identificar esses problemas e encontrar os melhores ajustes para que o texto comunique a mensagem sem desrespeitar questões sociais.

 

Este artigo foi escrito por Robert Stitt, a content writer da Ulatus.

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